Dissertação/Tese O VALOR DO PERFIL DE ATIVIDADE HUMANA NA AVALIAÇÃO FUNCIONAL E IDENTIFICAÇÃO DE PACIENTES COM CARDIOMIOPATIA CHAGÁSICA - PPGREAB

A doença de Chagas permanece como um problema de saúde pública. Estimativas apontam que há cerca de 1 milhão de infectados no Brasil. A forma cardíaca, denominada de cardiomiopatia chagásica (CCh), é a forma clínica mais grave da doença. Dentre os marcadores bem estabelecidos de pior prognóstico, a disfunção sistólica e a classe funcional da New York Heart Association (NYHA) se destacam. Com a progressão da doença, os pacientes também tendem a apresentar alterações funcionais, principalmente em decorrência da fadiga e dispneia. Entretanto, métodos de avaliação funcionais são dispendiosos, requerem maior espaço físico ou não apresentam metodologias validadas. Em contrapartida, o estudo da avaliação funcional relatadas pelo paciente vem ganhando força. Dentre os instrumentos, o Perfil de Atividade Humana (PAH) é amplamente utilizado na população em geral. Entretanto, a sua associação com parâmetros funcionais e sua habilidade de identificar pacientes com CCh grave não foi verificada, o que poderia auxiliar na compreensão da aplicabilidade do PAH nessa população. Objetivos: Verificar a associação entre o escore do PAH e variáveis funcionais e investigar a sua acurácia na identificação de pacientes com CCh grave. Métodos: Sessenta e sete pacientes com CCh (64,9 ± 8,3 anos, NYHA I-III, 25% com disfunção sistólica) foram avaliados à ecocardiografia, e a fatores funcionais como velocidade de marcha, teste de sentar-levantar (TSL) de 60 segundos (para força muscular de membros inferiores), força de preensão manual e PAH. O PAH é composto por 94 itens relacionados às atividades diárias, sendo utilizado o escore de atividade máxima (soma de todos os itens). Pacientes graves foram definidos pela presença de disfunção sistólica (fração de ejeção do ventrículo esquerdo inferior a 52 ou 54% para homens e mulheres, respectivamente) ou classe funcional NYHA ≥ 3. A associação entre o PAH e variáveis funcionais foi verificada pelos testes de Pearson ou Spearman. Diferenças no PAH entre pacientes com e sem disfunção sistólica foi verificada pelos testes t para amostras independentes ou Mann-Whitney. A acurácia do PAH em identificar os pacientes graves foi verificada pela receiver operating characteristic curve (curva ROC). Resultados: O PAH correlacionou-se com a velocidade da marcha (r= -0,269; p=0,038), TSL 60 (r=0,292, p=0,025) e força de preensão manual (r=0,356, p=0,005). Os valores do PAH foram menores nos pacientes graves (n=21) quando comparados aos não graves (p<0,001). A área sob a curva ROC mostrou que o escore do PAH pode auxiliar na identificação de pacientes com CCh grave (AUC=0,788) e o ponto de corte ideal foi pontuação inferior a 56,5. Paciente com escore do PAH acima de 56,5 possui 86% de probabilidade de não ser grave. Conclusão: O PAH está relacionado à fatores funcionais importantes e pode auxiliar na identificação de pacientes com CCh grave.

Chagas disease remains a public health problem and there are around 1 million infected people in Brazil. The cardiac form, denoted Chagas cardiomyopathy (ChC), is the most severe clinical form of the disease. Among the well-established markers of worse prognosis, systolic dysfunction and New York Heart Association (NYHA) functional class stand out. As the disease progresses, patients also tend to present functional changes, mainly due to fatigue and dyspnea. However, functional assessment methods are expensive, require more physical space or do not present valid methodologies. On the other hand, the study of patient-reported functional assessment and quality of life has been gaining momentum. Among the instruments, the Human Activity Profile (HAP) is widely used in the general population. However, its association with functional parameters and its ability to identify more severe patients has not been verified, which could help in understanding the applicability of HAP in patients with ChC. Objectives: To verify the association between HAP score and functional variables and to investigate its accuracy in identifying patients with severe ChC. Methods: Sixty-seven patients with ChC (64.9 ± 8.3 years, NYHA I-III, 25% with systolic dysfunction) were evaluated by echocardiography, gait speed, 60-second Sit-Stand Test (for muscle strength of lower limbs), handgrip strength and HAP. The HAP consists of 94 items related to daily activities, using the maximum activity score (sum of all items). Severe patients were defined by the presence of systolic dysfunction (left ventricular ejection fraction less than 52 or 54% for men and women, respectively) or NYHA functional class ≥ 3. The association between HAP and functional variables was verified by Pearson tests or Spearman. Differences in PAH between patients with and without systolic dysfunction were verified by T tests for independent samples or Mann-Whitney. The accuracy of the HAP in identifying severe patients was verified by the receiver operating characteristic curve (ROC curve). Results: The HAP correlated with gait speed (r= -0.269; p=0.038), STS 60 (r=0.292, p=0.025) and handgrip strength (r=0.356, p=0.005). HAP values were lower in severe patients (n=21) when compared to non-severe patients (p<0.001). The area under the ROC curve showed that the HAP score can help identify patients with severe ChC (AUC=0.788), and the optimal cutoff was a score below 56.5. A patient with a HAP score above 56.5 has an 86% chance of not being a severe case. Conclusion: The HAP is related to important functional factors and can help to identify patients with severe ChC.